Mesmo quem mora nos espaços urbanos da Amazônia, já deve ter ouvido falar ou utilizado algum tratamento à base de plantas medicinais, que ocorrem na região como as sementes de jucá em infusão, para ajudar a cicatrizar um ferimento; um chazinho de espinheira santa, para o estômago; chá de pariri, para anemia, e aquele óleo de copaíba, altamente anti-inflamatório. Apesar desse uso ser baseado, na maioria das vezes, em um conhecimento de tradição oral, relacionado às memórias de gerações mais velhas, cientistas de diversas áreas se dedicam ao estudo dessas plantas, para validar uma aplicação segura de suas propriedades. Por essa e outras razões, a Universidade do Estado do Pará (Uepa), realiza nos dias 13 e 14, o I Simpósio Paraense de Plantas Medicinais da Amazônia (SPPMA), que recebe inscrições online até o primeiro dia do evento.
De acordo com a organização, o evento é pioneiro ao reunir especialistas, pesquisadores e defensores da medicina tradicional e científica, para explorar as riquezas naturais e os usos medicinais das plantas na Amazônia. As palestras, mesa redonda, minicursos e trabalhos submetidos ao simpósio focalizam pesquisa, conservação e intercâmbio cultural, com o objetivo de “fortalecer o entendimento e a preservação do vasto conhecimento das plantas medicinais amazônicas, promovendo colaboração interdisciplinar e práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que celebra a rica herança da região”.
O professor do Departamento de Ciências Naturais da Uepa, Pablo Luis Figueiredo esclarece que o evento, organizado pelo Laboratório de Química dos Produtos Naturais (LaQuiProN) da universidade, busca “promover, justamente, a integração entre a medicina tradicional amazônica e o ambiente acadêmico, visando à preservação cultural, troca de conhecimentos e avanço na pesquisa científica relacionada a plantas medicinais na região da Amazônia”.
Atenção aos usos
E como a pessoa comum pode saber se deve ou não consumir um chá ou uma pomada daquelas que as pessoas indicam, se muitas vezes não encontram as orientações sobre as contraindicações? Como químico, com mestrado e doutorado em Química, o professor Pablo responde que é importante procurar orientação de profissionais qualificados, especificamente da saúde, como médicos ou farmacêuticos, para avaliar a segurança e eficácia de tratamentos à base de plantas. “Eles podem fornecer informações sobre possíveis interações medicamentosas e contraindicações, garantindo o uso seguro desses recursos da medicina tradicional”, explica.
Nesse sentido, ele afirma que “muitas plantas medicinais possuem compostos com propriedades medicinais. Porém, esses tratamentos são considerados complementares e poucas vezes podem substituir a medicina convencional”. Outras plantas podem ter propriedades curativas ou preventivas, entretanto, é fundamental buscar orientação profissional para garantir o uso seguro.
Como líder do Grupo de Pesquisa Plantas Aromáticas da Amazônia Paraense, Pablo Figueiredo explica também sobre uma associação terapêutica que pode ser feita com óleos essenciais das folhas, sementes e frutos das plantas na Amazônia. Ele destaca os estudos que vêm sendo realizados no Laboratório de Química dos Produtos Naturais (LaQuiProN), que analisam a composição química e propriedades biológicas, como antioxidante, antitumoral, cicatrizante e antiinflamatória de óleos essenciais de espécies de plantas da região amazônica, como a pitangueira e a capitiú. “Inclusive, resultados preliminares do estudo da minha aluna de doutorado Jamile Silva têm constatado que o óleo essencial das folhas da pitangueira tem exibido atividade antitumoral. Outra aluna, Ellen Nayara, que trabalhou com essa mesma espécie evidenciou que óleo possui atividade antiinflamatória e analgésica, além de ter baixa toxicidade. Outra pesquisa, do meu aluno Lucas Viana evidenciou que o óleo essencial de capitiú apresenta potencial como antitumoral e antioxidante. Ainda, uma pesquisa, que está sendo realizada por minha aluna de mestrado Luana Barros, tem mostrado que o óleo de japana roxa exibe baixa toxicidade oral e significativas ações antinociceptivas e anti-inflamatórias. Outra espécie bem conhecida por todos é a erva-cidreira, que também apresentou potencial frente a esses ensaios de atividade anti-inflamatória e antinociceptiva, além de não se mostrar tóxica oralmente, em um estudo realizado pela aluna Maria Juliana. O óleo da oriza, apesar de não possuir ação anti-inflamatória e antinociceptiva, não é considerado tóxico. Isso foi constatado em uma pesquisa realizada pelo aluno de mestrado Paulo Santos”, relata o pesquisador.
Serviço
I Simpósio Paraense de Plantas Medicinais da Amazônia (SPPMA)
Data: 13 e 14/12/2023
Horário: 8h às 19h
Local: Universidade do Estado do Pará - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS)
Inscrições: individual ou em grupo, incluem o pagamento + 1 kg de alimento não perecível, que será doado ao Instito Áster, de assistência voluntária às crianças e adolescentes com câncer em Belém.
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