Somente 10,6% dos estudantes matriculados em cursos de medicina no Brasil têm idade acima dos 30 anos. Segundo levantamento do portal Melhores Escolas Médicas, com base nos dados mais atualizados do Censo de Educação Superior 2020, o percentual é menor se comparado ao curso de Direito (26,7%) e às Engenharias (23,5%). Por outro lado, os dados mostram que a maior concentração de faixa etária de alunos de medicina é de 18 a 24 anos, o que corresponde a 66,47% do dotal.
E onde estão concentrados esses 10,6% dos estudantes matriculados em medicina que passaram dos 30 anos? Segundo a última pesquisa realizada pelo Censo de Educação Superior de 2020, mais de 8 mil alunos na faixa etária entre 30 e 34 anos estão cursando medicina em universidades particulares, e aproximadamente 3 mil alunos estão estudando em universidades públicas.
Vale ressaltar que o número de vagas das universidades e a renda do estudante fazem a diferença nesse quesito e na diversidade do número de alunos matriculados em escolas médicas particulares e públicas. A quantidade de vagas nas instituições particulares é maior versus as instituições públicas e federais.
E quais seriam os possíveis motivos para essa baixa porcentagem de alunos matriculados no curso de medicina que já passaram dos 30 anos?
Segundo Alcindo Ferla, médico, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG), existem explicações multifacetadas para essa questão. Uma delas está nas formas de acesso às instituições de ensino, que podem representar uma barreira para quem está há muito tempo afastado da sala de aula, da preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou dos vestibulares diretos.
“Se esse estudante tem 30 anos ou mais, a maneira que os vestibulares são formulados hoje está bem distinta do que era feito há 15 anos. É necessário ter dedicação, foco, esforço. E talvez esse indivíduo não tenha essa disponibilidade”, pondera Ferla. Outra explicação está relacionada ao investimento de longo prazo na formação médica. “Somado o tempo do curso, residência médica e a especialidade, são aproximadamente 12 anos de preparação para o mundo do trabalho médico. Esse fator pode desestimular quem já passou dos 30 anos”, observa o professor da UFRG.
Alcindo Ferla lembra que as pessoas com mais de 30 anos geralmente já estão trabalhando, pagando contas e, além disso, existem os projetos de vida, casamento, filhos, viagens, casa própria, carro, investimentos, previdência privada, entre outros fatores. Neste contexto, é necessário a total dedicação ao curso.
Apoio familiar
Apesar das dificuldades, pessoas como Marco Antônio Galvão não desistem do sonho de exercer a medicina e encontram no apoio familiar um forte aliado. Aos 37 anos, Marco deixou a Arquitetura e voltou aos bancos universitários. “Eu estava confortável com minha profissão anterior, também sou empresário, o que me possibilita trabalhar somente aos domingos, para não atrapalhar minha rotina nos estudos. A faculdade de medicina é integral e, como não consigo trabalhar durante a semana, minha família me dá um suporte financeiro para arcar com alguns custos, por exemplo, a mensalidade do curso”, relata.
A história de Rafaela Vieira também não é diferente. Após prestar vestibular três vezes para medicina, sem sucesso, ela decidiu cursar Direito. Concluiu a graduação, entrou no mercado de trabalho, mas, aos 32 anos, o sonho de ser médica falou mais alto. Rafaela deixou a advocacia e voltou a ser estudante. “Estava frustrada com minha profissão e, mesmo indo contra a opinião de todos, parei minhas outras atividades e voltei a estudar para entrar em medicina. Tive o apoio da minha mãe, inclusive financeiramente para que eu conseguisse concluir minha jornada. Hoje estou no quarto período da graduação, aos 34 anos, e extremamente realizada”, comemora.
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