A cultura junina é construída de diferentes formas em cada região do Brasil, e no Pará não pode ser diferente. No estado, que já é único por si só, a construção das festas juninas bebe de várias fontes, e uma música é o perfeito exemplo disso.
A Quadrilha da Pantera, um dos grandes sucessos da banda paraense Fruta Quente, é uma grande mistura de referências artísticas e culturais que resultou no clássico da festa junina paraense que é.
Lançada em 1995, como parte do álbum Fruta da Paixão, a quadrilha ganhou as rádios e as festas juninas em pouco tempo e se transformou no que é, até hoje, o maior sucesso da banda, que também tem vários sucessos no carimbó.
A canção já começa referenciando o filme A Pantera Cor-de-Rosa (1963) com a trilha sonora instrumental tocada em solo de guitarra, e segue a canção com a chegada de "um tal de inspetor Clouseau" na terra do açaí.
De acordo com o compositor da música, Rhicky Sandres, a música é uma crítica velada à desvalorização da cultura paraense desde a Belle Époque até o início dos anos 90.
"Até a década de 90, ainda vivíamos um processo de alienação e uma total falta de consciência e valorização cultural do nosso estado, direcionada também pelos meios de comunicação, onde o que chegava de fora era bom, e passava a ditar todo um processo de modismo generalizado. E neste bolo estava a negligência total da nossa cultura", explicou Rhicky.
Para ele, a valorização da cultura paraense deve continuar sempre no dia a dia. "Temos que, a cada dia, valorizar o que é nosso e o que somos, nossos costumes, valores, sabores. Divulgar sem limites a nossa cultura, nossa identidade e a nossa verdade."
A música também brinca com termos em inglês e francês, que ganharam conotações de duplo sentido, como Scotland Yard, sede da Polícia Metropolitana Londrina, que virou "Se o Scot Lande arde, eu não sei".
J. F. Cowboy, guitarrista da banda que também participou do processo criativo, explicou que, inicialmente, a música não seria uma quadrilha.
"Originalmente, ela era um carimbó. E a gente começou a tocar, mas ela não fluiu como carimbó. A gente já tocava quadrilha nos shows do Fruta Quente, então nós tivemos a ideia, em conjunto, de transformar em quadrilha. E estourou", explicou.
Com 29 anos completos na última segunda-feira (24), a música tem quase meio milhão de streams no Spotify, e mais de 200 mil visualizações no YouTube, e ainda hoje uma das músicas mais tocadas em festas juninas do Pará.
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