A Floresta Estadual (Flota) do Trombetas, na região oeste paraense, foi aberta neste domingo (4) para a safra 2024 da castanha-do-pará e do cumaru. Durante cerca de 4 a 6 meses, mais de 600 extrativistas previamente cadastrados junto ao Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), estão autorizados a entrar na Unidade de Conservação (UC) para realizar a atividade.
A iniciativa fortalece a cadeia da bioeconomia, gera renda para centenas de famílias e agrega valor aos produtos oriundos de maneira espontânea da natureza. Vale ressaltar que por ser uma UC de Uso Sustentável, a atividade é permitida na Flota do Trombetas, desde que siga as regras estabelecidas pelo órgão gestor da área.
“Essa é uma oportunidade ímpar para a geração de renda e o fortalecimento da bioeconomia no estado do Pará. Ao mesmo tempo, é essencial que essa atividade seja realizada de forma responsável e sustentável, preservando o meio ambiente e respeitando as comunidades tradicionais que dependem desses recursos naturais para sua subsistência”, enfatizou o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto.
Safra -A coleta da castanha-do-pará na Flota do Trombetas tem início após o período de queda do fruto da castanheira (Bertholletia excelsa), conhecido como ouriço. Esse fruto, uma espécie de coco de casca grossa e resistente, começa a cair entre os meses de dezembro e janeiro. Após a queda dos frutos, os extrativistas iniciam a coleta.
Ainda no interior da UC, os ouriços são amontoados em áreas abertas da floresta e, em seguida, são quebrados para a extração das castanhas. Em média, cada ouriço contém entre 10 e 20 castanhas, que passam por um processo de secagem antes de serem ensacadas e colocadas à venda.
Uma boa notícia para os extrativistas é o aumento no preço da saca da castanha comercializada neste ano. Em comparação com o valor praticado em 2023, o preço da saca da castanha-do-pará vendida pelo extrativista está maior, sendo de R$ 200,00 contra R$ 144,00. Já nas usinas de beneficiamento do município de Oriximiná, o preço médio da saca gira em torno de R$ 250,00.
A extrativista Raquel Sampaio, está esperançosa para a colheita deste ano. Ela também avalia que os protocolos sanitários e de segurança são indispensáveis para que o trabalho ocorra da melhor forma possível. “Digo com orgulho que viver da floresta vale a pena. Floresta também tem vida, tanto as árvores, como nós extrativistas, indígenas e quilombolas. Todos nós lutamos por um só objetivo: manter a floresta em pé e garantir o sustento das nossas famílias”, ressaltou.
Orientações -No sábado (3), a Gerência da Região Administrativa Calha Norte II (GRCNII), vinculada à Diretoria de Gestão e Monitoramento das Unidades de Conservação (DGMUC), promoveu uma série de programações com a comunidade na Base do Jaramacaru, no município de Óbidos. Entre as atividades, foram realizados testes rápidos para detecção da Covid-19 e fornecidas orientações gerais sobre o acesso à UC.
Uma delas foi quanto ao horário de entrada e saída da Flota, a obrigatoriedade na apresentação da carteira de credenciamento, comprovante de vacinação, documento de identificação com foto e o Termo de Compromisso Individual, assinado, comprometendo-se a ficar longe das áreas da Terra Indígena Zo'é. O descumprimento dessas medidas acarretará no afastamento do castanheiro e de sua equipe de trabalho, não sendo mais permitido o retorno.
O titular da GRCNII, Ronaldson Farias, atribui ao cadastro atualizado das pessoas que entram na UC e a revista policial de todos para que o planejamento siga dentro do esperado. “Este ano, a expectativa é que haja uma boa safra e que mais de cinco mil sacos de castanha saiam da UC. O preço está oportuno e isso nos deixa felizes, por saber que esses extrativistas poderão tirar o seu sustento, mantendo a floresta em pé e produtiva”, enfatizou o gerente.
Parceria -O Instituto mantém há vários anos uma base na comunidade do Jaramacaru, onde monitora as atividades por meio da equipe técnica da GRCNII, em parceria com a 1ª Companhia Independente de Polícia Ambiental (CIPAmb), Associação Mista Agrícola Extrativista dos Moradores da Comunidade Jaramacaru e Região (Acaje) e secretarias municipais de Meio Ambiente de Óbidos e Oriximiná. Essa cooperação tem sido fundamental para garantir o manejo sustentável da floresta, bem como a preservação dos recursos naturais e a promoção do desenvolvimento econômico local.
No entanto, além do extrativismo, a Flota do Trombetas é celeiro para a pesquisa científica. O vice-diretor do Campus Oriximiná da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Vinícius Giglio, conta que a Flota do Trombetas tem sido utilizada para atividades da disciplina de Ecologia de Campo. Os alunos desenvolvem projetos que possibilitem a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
“A parceria com o Ideflor-Bio surgiu da necessidade de ter uma infraestrutura para usar na disciplina, que no caso, seria uma área conservada. A Flota do Trombetas possui todos esses aspectos, o que despertou ainda mais o nosso interesse. Outro fator que contribuiu para que trouxéssemos as turmas para cá, é a interação com a comunidade, sempre presente em todas as decisões que são tomadas sobre a UC”, frisou o dirigente.
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